Real digital reúne grandes bancos e exclui 'criptoativos'

26/05/2023
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As maiores 'tokenizadoras' e plataformas de ativos digitais ficarão fora dos testes do real digital, a versão programável da moeda brasileira. O Banco Central (BC) selecionou 14 consórcios, entre alguns dos maiores bancos brasileiros, de um total de 36 grupos inscritos para testar operações envolvendo grandes transações do atacado, depósitos tokenizados de empresas e pessoas físicas, negociação de títulos públicos digitais e moedas de instituições de pagamento. Os testes terão início a partir de meados de junho e devem durar 18 meses.

Nessa fase, o BC quer verificar se a tecnologia blockchain da rede Hyperledger Besu, inspirada nos contratos inteligentes do Ethereum, tem condições de operar com segurança em altíssima escala, além de atender exigências legais de privacidade e de compliance do arranjo do Sistema Financeiro Nacional (SEN). Os critérios para seleção foram capacidade e conhecimento técnico dos participantes, além de representatividade no setor.

Entre os selecionados estão Bradesco, Itaú Unibanco, Santander, Banco do Brasil, BTG Pactual, Nubank, XP, a bolsa B3, além de Banco da Amazônia, Banco Inter, BV, Banco ABC, um consórcio de cooperativas de crédito liderado por Sicoob e Sicredi, e várias instituições financeiras menores ligadas à Associação Brasileira de Bancos (ABBC). A Caixa Econômica Federal não foi selecionada. Ficaram fora startups criptonativas com alto conhecimento das transações envolvendo ativos digitais, como Mercado Bitcoin (MB) e o Capitual, antigo parceiro da Binance no Brasil, além das tokenizadoras Ligi e Vórtx QR.

Procurados, o MB informou que deve recorrer da decisão, enquanto a Liqi estuda seguir o mesmo caminho. A Vórtx não comentou. A Caixa também pretende recorrer. Eles têm cinco dias para apresentar justificativas para serem reconsiderados. Também não entrou o projeto encampado pelo Banco do Nordeste, que junto com a startup cripto Lovecrypto previa usar títulos do Tesouro Direto tokenizados como garantia para microcrédito.

Entre as bandeiras de cartões, entrou apenas a Visa, por meio do consórcio com a XP. Já a Mastercard, que estava no consórcio do Mercado Bitcoin e apresenta soluções de carteiras digitais, ficou fora. A Elo tinha entrado junto com a Caixa, mas não foi selecionada. Quem ficou fora poderá participar dos debates por meio de um fórum criado pelo BC para discutiras inovações.

Um grupo pequeno de startups de ativos digitais, no entanto, terá condições de participar dessa fase. O consórcio liderado pela TecBan e pelo Banco da Amazônia reúne ao todo 12 empresas dos mais diferentes segmentos, sendo três criptonativas 'puro sangue': a plataforma Foxbit; a Parfin, de infraestrutura de ativos digitais; e a tokenizadora nTokens. Junto com o Banco ABC está também a tokenizadora Hamsa, que trabalha com NFTs (tokens não fungíveis).

No Bradesco, os trabalhos envolverão um time multidisciplinar com participantes das áreas de tesouraria, ações e custódia, cash management, tecnologia de ativos digitais, além das áreas de distribuição da corretora Ágora e do Inovabra. Edilson Reis, diretor executivo do banco, afirma que poderão ser chamados parceiros e fornecedores especialistas para participar dos trabalhos. 'Temos um rol grande parceiros e fornecedores que poderão participar conforme houver necessidade', disse.

Segundo Guto Antunes, responsável pela Itaú Digital Assets, o banco já vem conversando com o BC há alguns anos sobre criptoativos, faz parte de acordo técnico da Febraban sobre o tema e já participou de diversas iniciativas para desenvolver ferramentas ligadas a blockchain. A unidade tem 60 colaboradores. 'A expertise que desenvolvemos internamente para esse piloto é bem avançada. Vamos desenvolver os casos de uso propositivamente', disse.

Para André Portilho, chefe de ativos digitais do BTG Pactual, o BC foi bastante objetivo nessa fase para garantir celeridade e conseguir testar aspectos como privacidade, programabilidade, interoperabilidade e escalabilidade da rede. Ele afirmou que o banco pode, eventualmente, recorrer a parceiros na área de tecnologia caso veja necessidade durante os testes. 'Primeiro vamos testar a infraestrutura de forma mais restrita e em outro momento abrir para inovações. '

Liderado pelo Banco Ribeirão Preto, o consórcio da ABBC pretende levar as instituições associadas a aprenderem com os testes do piloto. 'A ABBC oferecerá know-how para os suportes necessários nos testes, implementando um nó no ambiente DLT [Tecnologia de Registro Distribuído] e contando com a aplicação de soluções de computação confidencial para garantia da privacidade das transações. '

O Nubank pretende realizar simulações com a moeda digital, moeda eletrônica e negociação de títulos públicos. 'O desenvolvimento da plataforma do real digital é o primeiro passo do próximo ciclo de inovação tecnológica no

Sistema Financeiro Nacional, tendo a tokenização de ativos financeiros e reais como objetivo a ser perseguido nos próximos anos. '